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Por outro lado, não só porque a pesquisa teve como pano de fundo
         a realidade regional latino-americana, mas também porque as instâncias
         relativas ao desenvolvimento científico-tecnológico e às práticas médicas
         constituem-se em instâncias internacionalizadas, é importante enfocar o
         conceito de saúde internacional.
               Na bibliografia sobre saúde internacional podem ser identificadas
         abordagens que a apresentam como disciplina, como modelo explicativo
         ou, ainda, como campo de estudo e de prática. Na perspectiva adotada
         nesta oportunidade, ela não é uma disciplina, no sentido de conformar um
         corpo de conhecimentos e uma metodologia particulares. Ao contrário,
         é configurada a partir dos conhecimentos produzidos por diferentes
         disciplinas, que convergem em torno de uma área de problematização
         específica. O conceito de saúde internacional adotado diz respeito às duas
         outras abordagens, modelo explicativo e campo de estudo e de prática,
         que não são excludentes. (GODUE, 1992; RODRÍGUEZ, 1992)
               O modelo explicativo escolhido incorpora a categoria de totalidade,
          introduzindo novas dimensões à análise do processo saúde-doença, dos
          sistemas de atenção à saúde e dos processos de formação de rhs. Estas
          novas dimensões implicam na consideração (explícita ou não) de um
          conjunto de determinações que se dão em escala mundial e que se referem
          aos processos econômicos, políticos e sanitários.
               Explicar o processo saúde-doença, os sistemas de atenção
          e a formação de rhs implica, na maioria dos casos, ter em conta o
          funcionamento do sistema capitalista em escala mundial, a divisão
          internacional do trabalho entre os países e a assimetria das relações de
          poder derivada de tal estrutura. (FERREIRA et al.,1992) Sem perder de
          vista que a democracia e o nível de desenvolvimento da cidadania em um
          dado país ou região exercem, igualmente, influência importante nessas
          relações de poder.
               Como campo de estudo e de prática, adota-se um recorte alternativo
          à sua definição clássica. Segundo esta, saúde internacional se refere
          somente à saúde dos países subdesenvolvidos (por exemplo, as “doenças
          tropicais”), enfocada pela ótica da dependência e do assistencialismo.
          Num enfoque alternativo, denominado independente-cooperativo, com o
          qual as análises do estudo realizado se identificam, usa-se o termo saúde
          internacional para designar um campo de investigação e de intervenção
          que leva em conta as dimensões internacionais do processo saúde-doença,


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