Page 94 - DOENÇA MENINGOCÓCICA - VOLUME 2 - DIGITAL
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OBJETIVOS E ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA · CAPÍTULO II - Fatores socioeconômicos e doença meningocócica
força, sugerindo que uma proporção da população de crianças estaria associada
à incidência da DM independentemente da renda.
A correlação entre morbidade geral e tempo de moradia, que se reduziu com
o controle da renda e quase desapareceu com o controle da idade, é explicada
pela associação mais forte do tempo de moradia com idade que com renda.
Parece claro que as famílias residentes há mais de 10 anos e 6 meses no
mesmo bairro sejam constituídas por indivíduos de faixas etárias mais altas,
em sua maioria, o contrário possivelmente se dando com as de curto tempo de
residência. E, assim, a correlação entre tempos de moradia e incidência da DM
é secundária, através da ligação deste coeficiente com a população de crianças.
A incompetência imunefisiológica para a produção de anticorpos
bactericidas antimeningocócicos 59, 106 limita-se, principalmente, aos primeiros
2 anos de vida. Não sabemos, todavia, se outros mecanismos de defesa mal
conhecidos, específicos, ou inespecíficos, atuariam com mais eficiência em
crianças saudáveis (bem nutridas, sem defeitos do sistema imune, sem infecções
concorrentes e outras comorbidades etc.) e até onde, ou até qual idade, a
defesa imune pode ser comprometida pela deficiência de fatores ligados a
uma dieta insuficiente. Lembrando, porém, que formas graves de DM, como a
meningococcemia grave ou fulminante, são vistas em crianças, adolescentes e
adultos aparentemente sadios.
Um aspecto eventualmente predisponente à doença meningocócica
seria um provável predomínio de portadores do meningococo em populações
mais pobres 69 ,89, 211 , já tendo sido observada relação direta entre proporção
de portadores com piores condições de moradia ; no entanto, mesmo nessas
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condições de moradia, tem-se observado menor proporção de portadores entre
crianças abaixo de 4 anos, as mais acometidas. Controvertidamente, também
já se observou que o tamanho das famílias teve pouca influência em relação
à frequência de portadores 89, 201 ; entretanto, o contrário já se verificou, ou
seja, certo predomínio de portadores nas famílias mais numerosas nas quais,
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contudo, não se encontrou nenhum portador entre lactentes . No entanto,
devemos frisar que, embora a renda tenha participado consideravelmente na
produção da doença, associando-se a cerca de 30% da morbidade geral (Figura
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