Page 11 - A Organização dos Serviços de Saúde em Londrina
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centralizador e concentrador de renda na política de saúde,
como no restante das relações econômicas. Por final, Marcio
cita Amílcar Herrera que analisa as contradições entre as
políticas explícitas, oficiais e as políticas implícitas reais. Creio
oportuno destacar, nesta apresentação, o alcance das análises e
posicionamentos de Marcio ao final dos anos 70, claramente
reveladores e esclarecedores do desenvolvimento da política
de Estado para a saúde até nossos dias, apesar dos avanços
constitucionais e da legislação infraconstitucional.
Com sua ampla visão de processo no complexo
desenvolvimento da política de saúde, Marcio já identificava
os obstáculos à expansão e qualificação da APS, à continuidade
de atenção nos demais níveis do sistema sob a lógica da APS,
à realização da atenção integral e à política de amplas massas
com elevação da consciência dos direitos à saúde, e por isso
acena aos rumos traçados na 3ª Conferência Nacional de Saúde
(1963), abortados com a ditadura em 1964. Acena, também,
à necessidade do movimento sanitário elevar sua capacidade
de análise e de formulação de estratégias, citando com muita
propriedade Mario Testa. Penso que nem Marcio, nem os demais
pioneiros e formuladores da reforma sanitária, ao final dos anos
70, imaginariam que após as belas conquistas constitucionais e
das Leis decorrentes, já com o SUS “legal”, a política de Estado
implícita, real, aumentaria seu compromisso de subsidiar
o mercado de planos privados, de subfinanciar o SUS e de
manter arcaicos os procedimentos e gerenciamento estatais
da prestação de serviços públicos de saúde. As decorrências e
consequências dessa política foram sendo percebidas por anos
na prática do dia a dia, de modo fragmentado, como:
a) O desinvestimento na capacidade instalada pública
de média e alta densidade tecnológica e incontrolável
hegemonia dos prestadores privados conveniados e
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