Page 14 - A Organização dos Serviços de Saúde em Londrina
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e pelo INCOR/USP, e nos anos 90, com a criação legal das
Organizações Sociais e outros formatos. A grande dúvida
e polêmica residem no surgimento de grande número de
entidades privadas no mercado para essa tarefa, e nos interesses
privados e consequente correlação de forças políticas, diante
da impotência e inapetência do Estado para hegemonizar a
construção do novo modelo de atenção. Mesmo com legislação
criadora dos entes privados, gerentes de estabelecimentos
públicos de saúde, coerente com as diretrizes constitucionais,
como se comportariam politicamente essas gerências privadas?
Na prática constatamos que a hegemonia privatizante
vem levando à abertura da segunda porta de admissão nesses
estabelecimentos, destinada à clientela privada, com melhor
acolhimento e menor repressão de demanda, como desde
o início acontece no Hospital São Paulo/UNIFESP, no
INCOR/USP e agora no HC/USP. Até mesmo a regulação
dessa gerência privada é objeto de criação de agência privada
reguladora. Em nome dos gestores públicos descentralizados
comprometidos com o SUS e os direitos dos usuários (a
grande maioria), encurralados pela própria política de Estado
e dispostos ao risco de optar por alternativa “menos pior”,
Marcio expõe-se e revela outra característica sua desde sempre,
a coragem e ousadia. E a questão permanece: a energia e
desgaste despendidos nesta alternativa não deveriam se voltar
para o esforço de reforma democrática e gerencial do Estado
na área social, para somente após identificar as situações e
necessidades desse tipo de parceria público-privado?
Campinas, janeiro de 2012.
Nelson Rodrigues dos Santos
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