Page 130 - A Organização dos Serviços de Saúde em Londrina
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O TRABALHO. DESENVOLVIMENTO E OBSTÁCULOS.
Na medida em que o pessoal de saúde faça também parte
integrante da comunidade em que vive e trabalha e mantenha
com ela um diálogo contínuo, despido de quaisquer tendências
à persuasão, mas assumindo uma posição de igual para igual,
propondo criticamente sua ideia frente à da comunidade,
para chegar com ela a conclusões lógicas e científicas para
ambos, ficará mais fácil à equipe de saúde conhecer melhor
a comunidade, as razões dos seus pontos de vista, o nível de
suas aspirações e seus tipos de organização. De sua parte, a
população aprenderá a identificar suas verdadeiras necessidades
sanitárias, e discutir e compreender as políticas de saúde.
A evolução do processo depende do sucesso com que se
consiga tornar os serviços de saúde parte integrante da vida das
populações. Parece-nos equivocado pretender marcar datas e
métodos para viabilização da diretriz de participação popular
no sistema de atenção à saúde e talvez por isso mesmo, por
essa visão crítica, entendemos a participação comunitária como
a contribuição que os membros da equipe de saúde podem
fornecer ao processo de organização popular em torno dos
seus problemas. Problemas que são específicos, locais, e que só
adquirem expressão estrutural quando se ligam aos problemas
gerais. Neste sentido a participação se vê bastante limitada desde
que não se crie a possibilidade de participação nas esferas das
grandes decisões de caráter nacional. O obstáculo que enfrenta,
portanto, neste nível do trabalho é o risco de se estimular
uma ilusão de participação, controlista e manipuladora. Em
todo caso, sobrepujar esse risco é um obstáculo somente
na medida em que se está disposto a colocar no passado a
observação, ainda atual, de Tornero (80) de que “a população
não tem nenhum papel ativo na experiência” desenvolvida em
Londrina. Um obstáculo em si promissor, pois, entendida a
participação comunitária como processo em constante ascenso,
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