Page 185 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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No entanto, apresentava sérias debilidades operacionais,
parcialmente apontadas por Gallo (1996). Apesar da sua concepção
metodológica contemplar a fusão de duas valiosas vertentes – a do
planejamento estratégico de recursos humanos em saúde e a da
gestão de qualidade total – ela terminou se convertendo em um ponto
fraco da proposta, assumindo, contraditoriamente, uma forte carga de
normatividade. Além de apresentar muitas incoerências internas ao
trabalhar vários conceitos, provenientes da área de qualidade, de forma
imprecisa e superficial.
O planejamento estratégico de recursos humanos em saúde,
conforme já documentado por Rovere (1993), por ter sido objeto de
experiências de construção coletiva, possui maior consistência teórico-
metodológica. Mas, em razão das suas características e complexidades
específicas, a metodologia “(…) reclama un debate teórico, epistemológico
e ideológico, que supera ampliamente las posibilidades del modelo
tradicional de asistencia técnica, más centrada en métodos simplificados,
en instrumentos que circulen por documentos técnicos y no tanto
por consultores que articulen la cooperación técnica con la docencia”
(ROVERE, 1997). Esta complexibilidade tem dificultado sua apropriação
pelos sujeitos sociais do movimento de educação médica.
Por outro lado, a gestão da qualidade total é uma concepção em
torno da qual o setor saúde se aproxima nos últimos tempos, em especial
o seu componente de serviços. A formação de recursos humanos e,
especificamente, a educação médica, entretanto, são terrenos ainda quase
virgens quanto à aplicação desta metodologia.
A proposta “Gestão de Qualidade”, ao preconizar a fusão de ambas
as concepções numa “Gestão Estratégica de Qualidade”, talvez tenha
agido de modo prematuro, pois, particularmente no caso da segunda, não
havia amadurecimento teórico-conceitual suficiente e tampouco processos
teórico-práticos de construção coletiva em andamento. A este respeito,
aliás, vale levar em consideração as observações de Malik (1996) no sentido
de que “(…) há algumas questões envolvidas nas teorias de qualidade que
merecem ser reanalisadas de maneira a evitar a incorporação acrítica de
todo um referencial estratégico gestado na indústria (…) por mais legítimo
que seja esse conhecimento e a aspiração por sua utilização”.
Outra debilidade no desenvolvimento da proposta foi de ordem
político-institucional. Em primeiro lugar, pela instabilidade que envolveu
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