Page 190 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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A origem, a área de atuação e  os antecedentes imediatos de
         cada uma das propostas serão analisados de forma integrada. Quanto
         à origem, identificada através da nacionalidade dos “fundadores” e dos
         seus principais autores, bem como através das fontes bibliográficas
         que forneceram os elementos teórico-metodológicos centrais de cada
         uma delas, verifica-se que as propostas UNI e Gestão de Qualidade são
         essencialmente latino-americanas. Já as propostas Changing e Network
         se originam na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá.
               O fato de que o projeto EMA tenha contribuído de forma
         significativa para a Conferência de Edimburgo de 1988 – fonte da proposta
         Changing –, que tenha havido participação de algumas instituições
         latino-americanas e da OPS, na reunião de criação da Network, e que
         esta tenha sido realizada em país caribenho, não permitiria afirmar a
         origem latino-americana destas propostas. A recíproca também vale para
         a proposta UNI, pois identificar a participação da Fundação Kellogg no
         patrocínio de iniciativas semelhantes, nos Estados Unidos e na África do
         Sul, não significa apontar que esta proposta tenha raízes norte-americanas
         mesmo quando parcela significativa do seu suporte financeiro provenha
         de instituição sediada nos EUA.
               A preocupação com a identificação da origem geopolítica das
         propostas  serve para ajudar a contextualizá-las, o que contribui para
         a compreensão da natureza de cada uma. As fronteiras dos países já
         deixaram há muito tempo de constituir barreiras à internacionalização
         do conhecimento, da tecnologia e das práticas no campo da saúde e,
         especificamente, no da educação médica.  Assim, como apontam vários
         autores, a produção e a administração do conhecimento em saúde estão
         transnacionalizadas e suas categorias de análise requerem um enfoque
         de saúde internacional.
               Reconhecer essa transnacionalização não significa assumir a
         concepção idealizada de um conhecimento universal. Esta é uma posição
         que, muitas vezes, está a serviço do discurso mistificador em defesa de
         uma universidade a-histórica e politicamente “neutra”. Na realidade, o
         que se verifica é uma alta concentração da capacidade de geração de
         conhecimento em saúde, restrita a um grupo reduzido de países, detentores
         de significativa proporção do investimento mundial em pesquisa. Os
         mesmos países onde se verifica altíssima concentração de capital dedicado
         à organização e à manutenção dos serviços de saúde – principalmente


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