Page 191 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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hospitalares  –,  e  à  fabricação  de  insumos  sanitários,  medicamentos,
         equipamentos e de alta tecnologia, caracterizando a formação do complexo
         médico-industrial.
               Esses três fenômenos – concentração da produção de conhecimento,
         alta concentração de capital e complexidade dos serviços médicos –
         reforçam-se mutuamente e, ao mesmo tempo, se transnacionalizam,
         “(…)ingresando a muchos de nuestros países con la fuerza de una
         hegemonía tan disruptiva como difícil de neutralizar y/o compensar.
         Así muchas universidades latinoamericanas se veen obligadas a difundir
         un conocimiento que no producen, condenadas a un rol parecido al de
         una estación repetidora que toma una señal de satélite y la retransmite”
         (ROVERE, 1993). A análise das propostas de mudança na educação
         médica pode ficar incompleta, caso não se levem em conta as influências
         das pressões que estes três fenômenos exercem sobre o campo do
         desenvolvimento de recursos humanos em saúde, especialmente quando
         operam sinergicamente.
               O prestígio crescente de algumas profissões e especialidades e
         o desprestígio de outras, apesar de orientadas a problemas de saúde
         prioritários; o surgimento de subespecialidades não avalizadas por nenhum
         estudo de demanda nem de necessidade, imediatamente reforçadas
         pela criação de serviços hospitalares (muitas vezes, em primeira mão,
         universitários), pela criação de disciplinas no currículo do curso médico e
         pela criação de associações científicas, traduzem apenas alguns exemplos
         desta realidade. Realidade cuja explicação, pelo menos em parte, reside na
         circulação transnacionalizada de bens simbólicos, materiais e de capital.
               Todos esses fenômenos seriam incompreensíveis, caso não fossem
         abordados desde uma ótica de saúde internacional. O modelo explicativo
         da saúde internacional, especialmente do seu enfoque independente-
         cooperativo, ajuda a compreender  as relações e as determinações que
         afetam os processos de desenvolvimento de rhs.
               As propostas UNI e Gestão de Qualidade têm características
         que permitem sua identificação mais nítida com o enfoque alternativo,
         independente-cooperativo,  da  saúde  internacional. A  Changing e  a
         Network que, pelo menos parcialmente, desenvolvem suas ações de
         acordo com uma visão de transferência de tecnologias educacionais,
         ficam a meio caminho entre o enfoque alternativo e o enfoque clássico,
         dependente-assistencialista, da saúde internacional.


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