Page 192 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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Esta classificação das propostas, segundo correntes/enfoques
         da saúde internacional, visa a contribuir para a compreensão das suas
         origens, compromissos político-ideológicos e potencialidades de serem,
         efetivamente, iniciativas contra-hegemônicas. As dimensões internacionais
         do processo de formação de médicos, os seus determinantes e as relações
         estabelecidas pelas propostas com os modelos hegemônicos de prática
         e de educação médica se constituem em importantes limites estruturais
         ao seu desenvolvimento.
               Conforme demonstram as informações contidas no Quadro 8, há
         características diversas quanto à promoção, ao financiamento, aos atores
         institucionais e aos sujeitos das propostas.
               Quanto à promoção, além das presenças tradicionais da OMS e
         da OPS – cujos pensamentos e ações no campo do desenvolvimento
         de recursos humanos em saúde raramente têm sido coincidentes –,
         verifica-se  a participação inovadora de uma organização do tipo rede,
         já relativamente consolidada e de uma fundação cuja tradição não era a
         de desempenhar papel pró-ativo, protagônico, no campo da educação
         médica latino-americana.
               A Network representa uma nova forma de articulação entre as
         forças políticas, existentes ao nível das escolas, interessadas em mudanças
         na educação médica. Sua penetração e rápido crescimento na América
         Latina estão vinculados a duas situações: 1.ª) desarticulação existente
         entre as cúpulas dirigentes da FEPAFEM e da ALAFEM com relação à suas
         “bases”, representadas pelas escolas médicas  (professores, alunos e seus
         dirigentes);  2.ª) aproximação promovida entre a Network e o Programa
         UNI, fruto do interesse despertado pelo PBL junto a vários projetos locais.
               Por outro lado, mais uma vez se nota a presença marcante da
         Fundação Kellogg na história do movimento de educação médica na
         América Latina. A opção da Kellogg, de não atuar mais como mera
         fornecedora de “grants” para os projetos que lhe eram submetidos e
         de decidir lançar, no início dos anos 1990, uma convocatória em busca
         de parceiros para desenvolver uma proposta de mudança na educação
         médica, tem várias explicações, dentre as quais: descrença na capacidade
         das entidades representativas tradicionais das escolas médicas em atuar
         como canais eficientes de implantação de mudanças e necessidade interna
         de acumular conhecimentos teórico-práticos na gestão de programas.



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