Page 194 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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caracteriza a participação deste último parceiro como “estratégica”.
Cabem, aqui, algumas considerações a respeito, produzidas sem base
em observações sobre práticas desenvolvidas, já que esta modalidade de
parceria ainda não adquiriu concretude.
Não se deve desconhecer que as corporações profissionais cuidam
prioritariamente, no caso dos seus vínculos com a formação médica, de
exercer influências sobre os futuros novos membros, no sentido de garantir
os interesses da profissão. As relações estabelecidas entre ideologia médica,
modelo médico hegemônico e complexo médico-industrial, permitem
estabelecer fortes interrogações acerca da eficácia desta estratégia de
parceria. A não ser que a profundidade das mudanças pretendidas não
reflita propósitos de estabelecer processos contra-hegemônicos, o que
parece não ser o caso das propostas Changing e Gestão de Qualidade,
especialmente no caso desta última.
As considerações acima não significam desconhecer o peso
político e social que a categoria médica, enquanto sujeitos sociais e atores
institucionais, tem nos processos de mudança. Reconhece-se a importância
de realizar alianças com ela, preferencialmente com seus segmentos
renovadores e no contexto de parcerias mais abrangentes.
A concepção de parceria mais consistente e que, conforme se
observou, vem sendo construída nos processos teórico-práticos dos
projetos locais, é a existente na proposta UNI. Nesta, as parcerias são
constituídas por atores/sujeitos da área acadêmica dos cursos médicos e
das outras profissões, por atores/sujeitos dos serviços de saúde, na maioria
de abrangência local, e por atores/sujeitos das organizações comunitárias
existentes nas áreas geopolíticas de atuação dos projetos.
Promovendo a atuação conjunta desses atores/sujeitos na condução
política, gerência e operação das ações desenvolvidas nos projetos UNI,
a parceria vem propiciando o acúmulo de recursos de poder para o
enfrentamento do modelo hegemônico da produção de médicos. Este, sem
precisar de “parcerias”, é permanentemente realimentado pelo processo
inercial conferido pelo seu próprio “status” de modelo consolidado e pela
ação dos atores e sujeitos que o sustentam dentro e fora dos ambientes
universitários.
No processo de desenvolvimento da proposta UNI, verificou-
se que a parceria, além de propiciar um grau de democratização nas
relações entre academia, serviços de saúde e população, vem construindo
e se constituindo em momentos e espaços propícios para diálogos
e fortalecimento de autonomias. Nela e através dela, os segmentos
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