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Uma visão crítica da extensão, que é conhecida como o “terceiro
         pilar” da vida universitária, levanta aspectos altamente preocupantes.
         Segundo esta visão, a proposta extensionista  é  utilizada  como  um
         contra-discurso para encobrir a alienação do ensino de nível superior,
         o descompromisso social das atividades de pesquisa científica e o não
         envolvimento da universidade com as transformações mais profundas no
         seu relacionamento com a sociedade. Quanto às atividades extensionistas,
         estas são entendidas como um ativismo assistencialista e paternalista,
         facilitado pelo idealismo dos estudantes, mais próximos à realidade
         social, mas despreparados para uma ação efetiva, profunda e abrangente,
         e também pela inexperiência de professores com pouca ou nenhuma
         formação histórica e política.
               A extensão, ao se relacionar diretamente com as comunidades,
         deixando à margem os órgãos públicos de prestação de serviços,
         verdadeiros responsáveis pelo atendimento às demandas sociais, acaba
         por criar “laboratórios de comunidade” que artificializam até mesmo as
         práticas de ensino e de pesquisa, quando estas são realizadas.
               A extensão deve ter outro significado, deixando de ser uma função
         paralela ao ensino e à pesquisa, integrando-se como uma dimensão
         destes e sendo um momento indispensável do processo de produção de
         conhecimento. Segundo Botomé (1996), “É possível  propor o abandono
         da extensão, já que ela é um equívoco. Mas o que importa mais é eliminar
         não a expressão que a denomina (...) mas sim suas falsificações. Por isso
         a proposta importante não é a sua extinção, justificação ou condenação
         e sim a sua superação (...)”.
               Neste sentido vêm ocorrendo situações em vários projetos que
         devem merecer análises mais aprofundadas, o que implica em maior
         envolvimento dos seus atores com as questões universitárias. Isto com
         vistas, em primeiro lugar, à universidade assumir, em conjunto, seu
         papel de ator nas reformas do setor saúde, envolvendo outros setores do
         conhecimento, disciplinas e profissões, reconhecendo que sua principal
         potencialidade de colaboração nas mudanças sociais não é pelo lado dos
         serviços, mas do desenvolvimento da ciência e da cultura.




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