Page 211 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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Uma visão crítica da extensão, que é conhecida como o “terceiro
pilar” da vida universitária, levanta aspectos altamente preocupantes.
Segundo esta visão, a proposta extensionista é utilizada como um
contra-discurso para encobrir a alienação do ensino de nível superior,
o descompromisso social das atividades de pesquisa científica e o não
envolvimento da universidade com as transformações mais profundas no
seu relacionamento com a sociedade. Quanto às atividades extensionistas,
estas são entendidas como um ativismo assistencialista e paternalista,
facilitado pelo idealismo dos estudantes, mais próximos à realidade
social, mas despreparados para uma ação efetiva, profunda e abrangente,
e também pela inexperiência de professores com pouca ou nenhuma
formação histórica e política.
A extensão, ao se relacionar diretamente com as comunidades,
deixando à margem os órgãos públicos de prestação de serviços,
verdadeiros responsáveis pelo atendimento às demandas sociais, acaba
por criar “laboratórios de comunidade” que artificializam até mesmo as
práticas de ensino e de pesquisa, quando estas são realizadas.
A extensão deve ter outro significado, deixando de ser uma função
paralela ao ensino e à pesquisa, integrando-se como uma dimensão
destes e sendo um momento indispensável do processo de produção de
conhecimento. Segundo Botomé (1996), “É possível propor o abandono
da extensão, já que ela é um equívoco. Mas o que importa mais é eliminar
não a expressão que a denomina (...) mas sim suas falsificações. Por isso
a proposta importante não é a sua extinção, justificação ou condenação
e sim a sua superação (...)”.
Neste sentido vêm ocorrendo situações em vários projetos que
devem merecer análises mais aprofundadas, o que implica em maior
envolvimento dos seus atores com as questões universitárias. Isto com
vistas, em primeiro lugar, à universidade assumir, em conjunto, seu
papel de ator nas reformas do setor saúde, envolvendo outros setores do
conhecimento, disciplinas e profissões, reconhecendo que sua principal
potencialidade de colaboração nas mudanças sociais não é pelo lado dos
serviços, mas do desenvolvimento da ciência e da cultura.
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