Page 207 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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desde o início das atividades acadêmicas, etc.
Outra preocupação diz respeito ao risco de se abortar o
desenvolvimento de iniciativas autóctones, como o estudo-trabalho e a
metodologia da problematização (MP). A primeira, originária de Cuba,
vem sendo adotada, principalmente, em escolas da América Central,
a exemplo de León, na Nicarágua. A segunda, originária de Londrina,
vem sendo adotada também em Marília e Rionegro. O pioneirismo
mencionado refere-se à aplicação da metodologia em cursos de medicina
e não à metodologia em si. Esta afirmativa baseia-se na inexistência de
referências bibliográficas latino-americanas que relatem experiências
empíricas desenvolvidas. Os textos que abordam essa metodologia,
principalmente da OPS, têm caráter de recomendação do seu uso. A
primeira publicação que se tem notícia, refletindo sobre a sua aplicação
em cursos da área da saúde é a de Berbel (1994). Em Marília e Londrina
estão sendo desenvolvidas reformas curriculares que associam a ABP e a
problematização. Embora haja afinidades entre ambas, há nítidas diferenças
de concepção e de processos.
Quanto à concepção: a ABP tem sua origem fundamentada pela
concepção da Escola Ativa (Kilpatrick, Dewey), associada à educação
liberal, que acredita que os indivíduos têm as mesmas oportunidades e
se desenvolvem segundo suas capacidades. A MP surge dentro de uma
visão de educação libertadora (Paulo Freire, Luckesi), inspirada nas
teorias histórico-críticas, que acredita na educação como prática social
e não individual ou individualizante. Quanto ao processo: a ABP tem
como ponto de partida um problema bem formulado pelo professor,
e, como ponto de chegada, pretende um resultado, após pesquisa,
discussões em grupos tutoriais, formulação de hipóteses e de soluções.
A MP tem como ponto de partida a realidade social, donde são extraídos
os problemas, e como ponto de chegada, novamente a realidade social,
para onde os alunos e professores retornam com informações, sugestões
e ações efetivas. Quanto aos objetivos: a ABP estimula o raciocínio,
habilidades intelectuais e aquisição de conhecimentos. A MP, além dessas
aquisições, mobiliza o potencial social, político e ético dos profissionais
em formação. Proporciona amplas condições de relação teoria-prática e
estimula o trabalho junto aos sujeitos, provocando alterações nas relações
técnicas, sociais e políticas (BERBEL, 1994). A autora esclarece que a
aplicação prática da metodologia se baseia no método do arco de Charles
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