Page 206 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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Não se pretende diminuir a importância e potencialidade dessa
modalidade de associação, que, idealmente, propicia relações menos
burocráticas, mais econômicas e mais ágeis. Mas constata-se uma certa aura
de “assepsia” política e ideológica nas proposições de trabalho em Rede.
A pretensa despolitização que reveste as iniciativas deste tipo
pode favorecer, por exemplo, a cooptação intelectual de sujeitos sociais
envaidecidos por terem acesso aos círculos da elite da educação médica
mundial. As próprias atividades de intercâmbio, para serem consequentes,
não podem prescindir da existência de projetos políticos voltados para a
atuação no contexto externo, que devem orientar o estabelecimento de
vínculos com outras entidades, movimentos e a ação sobre as esferas de
decisão das políticas públicas, nacionais e internacionais. Do contrário,
corre-se o risco de serem criados “clubes” fechados que, a médio e
longo prazos, tendem ao esvaziamento e perda de qualquer papel social
relevante.
4. No que se refere especificamente às estratégias educacionais,
vem ganhando corpo, no cenário latino-americano, a metodologia da
aprendizagem baseada em problemas (ABP). Não restam muitas dúvidas,
diante das avaliações existentes, de que esta é uma boa ferramenta para
introduzir maior eficiência nas práticas de ensino-aprendizagem e para
formar profissionais com visão mais crítica e melhor preparados para a
autoaprendizagem no seu trabalho futuro. Além disso, ao estabelecer
novas relações técnicas e sociais entre os agentes de ensino, contribui para
alterações importantes na infraestrutura do modo de produção de médicos.
Uma das preocupações que surgem diz respeito ao risco de se
incorrer num enfoque reducionista, imaginando que a adoção da ABP,
mesmo quando promovida de forma global, abarcando praticamente
todo o currículo médico, possa garantir, por si só, mudanças profundas
no modelo hegemônico. Para que estas ocorram há necessidade de
uma série de outras iniciativas, como: a utilização significativa de novos
cenários de ensino, prioritariamente nos serviços de primeiro e de segundo
níveis de atenção da rede; a construção de novas práticas profissionais;
a utilização de sistemas de avaliação dos alunos mais do tipo formativo
do que somativo; a articulação do conhecimento biológico-social nos
conteúdos curriculares; a superação da dissociação entre teoria e prática
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