Page 209 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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No entanto, há outras questões que também interferem na qualidade
         e intensidade dessas relações. Em muitos casos, parece não haver clareza
         por parte desses setores, que Paim (1996) chama de “braço acadêmico da
         Reforma Sanitária”, quanto ao significado político-sanitário desses projetos
         e quanto ao papel estratégico que podem desempenhar nos processos
         de mudança em curso.
               A melhor compreensão sobre esses projetos/processos pode
         auxiliar a saúde coletiva a enfrentar o desafio de dar conta dos seus
         projetos específicos, nos campos de ensino, produção de conhecimentos
         e cooperação com os serviços de saúde, articulando-os com projetos
         institucionais mais abrangentes, de mudança na educação dos profissionais
         de saúde. Desafio esse que é mais presente nos casos em que a saúde
         coletiva participa diretamente da estrutura da escola médica e/ou dos
         demais cursos da área de saúde.
               Os processos de mudança são, geralmente, protagonizados por
         outros sujeitos, nem sempre totalmente convencidos ou teoricamente
         preparados para enfrentar confrontos com os modelos hegemônicos de
         educação e de prática médica, necessitando do apoio da área de saúde
         coletiva para  desempenhar  com  eficácia seu papel  de  liderança  nos
         processos de mudança. Eis aqui uma questão que merece aprofundamentos
         teórico-práticos e técnico-políticos, principalmente por parte das áreas de
         recursos humanos e de planejamento & gestão do campo da saúde coletiva.
               Na realidade brasileira, esse desafio pode ser enfrentado, com
         perspectivas de sucesso, na medida em que o movimento sanitário entenda
         que nos processos de mudança em curso há subsídios para que ele
         construa a sua proposta para a escola médica e também para os demais
         cursos de graduação da área de saúde. Até o momento, embora não
         disponha de projetos alternativos, constatam-se reservas por parte de vários
         dos segmentos e atores que constituem o movimento sanitário brasileiro
         quanto às iniciativas de mudança desencadeadas. A recente refundação
         da Rede UNIDA e as ações que vem desenvolvendo contribuem para o
         preenchimento dessa lacuna na saúde coletiva nacional.
               Quanto ao cenário latino-americano, movimento semelhante vem
         ocorrendo. Durante o último Congresso Latino-Americano de Medicina
         Social, promovido pela ALAMES e realizado em Buenos Aires, Abramzón
         & Rovere (1997) manifestaram que “as experiências de mudança nos


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