Page 204 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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Na mesma linha de preocupação inserem-se as cautelas com
que devem ser abordadas as questões tratadas pela ECFMG e o novo
programa “International Fellowships in Medical Education”, que oferece
oportunidades (bolsas de estudos) para professores estrangeiros das
áreas de ciências básicas e de clínica médica, de estágios em escolas
médicas norte-americanas, “desde que tenham potencial para melhorar
a educação médica nos seus departamentos e escolas” (AYERS, 1997). É
o caso de se indagar para qual modelo de educação médica se voltam
estas iniciativas. Sua divulgação acrítica, através dos boletins Newsletter
e Changing, veículos oficiais de comunicação das propostas da Network
e da OMS, não deve inibir análises mais aprofundadas a respeito.
2. Todas as propostas analisadas incluem, dentre suas estratégias,
a educação continuada (EC) ou permanente (EPS) de profissionais de
saúde. Geralmente, estes termos são tratados como sinônimos. Mas, no
campo da proposta Gestão de Qualidade, faz-se diferenciações com base
no enfoque abordado na publicação “Educación Permanente de Personal
de Salud” (HADDAD & ROSCHKE & DAVINI, 1994).
Davini (1994) aponta que “a efetiva socialização profissional,
quanto a modos de pensar e de atuar, individual e coletivamente, de
uma determinada categoria, completa-se e consolida-se no campo da
prática profissional. (...) As formas de relação social (hegemonia, processo
decisório, conflito, controle do saber) e as práticas técnicas (divisão do
trabalho, circuitos operativos, saber fazer), são produtos históricos e
funcionam como matriz de aprendizagem nos locais de trabalho, mais
do que qualquer coisa aprendida no processo escolar formal”. Com esta
visão a autora preconiza não a inutilidade dos cursos de graduação, mas
sim que as práticas sanitárias podem tanto dificultar como facilitar as
aprendizagens transformadoras, daí a importância da EPS.
Entendendo a EPS “como a educação no trabalho, pelo trabalho
e para o trabalho”, Rovere (1994) analisou o papel da universidade na
EPS, concluindo por propor uma “Gestão Estratégica da EPS”, concebida
como uma ferramenta privilegiada de mudança organizacional e das
práticas assistenciais e educacionais. A questão merece reflexões mais
aprofundadas, como pode ser demonstrado pela leitura do Quadro 10,
construído com base em experiências concretas.
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