Page 203 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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A seguir, registram-se algumas reflexões sobre temas correlatos às
questões centrais deste estudo tratadas no capítulo anterior. São reflexões
inconclusas e, por isso, optou-se por apresentá-las sob a forma de “teses”.
Ou seja, de proposições para o debate e para novos estudos, com vistas
ao aprofundamento teórico-prático dos processos em desenvolvimento.
1. Durante várias décadas, a Fundação Rockfeller apoiou, da mesma
forma que a OPS e outras fundações norte-americanas, o movimento da
educação médica na América Latina. Mas, a partir dos anos 1980, ela deixou
de fazer parte do convívio com os atores desse movimento. Observou-
se, inclusive, que sua participação no apoio à Network foi limitada aos
anos 1981-1983.
Por outro lado, a partir de 1981, a Rockfeller passou a patrocinar
a formação de centros de formação em epidemiologia clínica (Carolina
do Norte e Pensilvânia nos EUA; Hamilton/McMaster no Canadá, e na
Austrália). Numa segunda fase (1992-98), passou a apoiar a estruturação
de consórcios regionais (asiático, africano, americano, etc) constituídos
por centros de treinamento.
Apesar de poder ser entendida como uma simples ferramenta
educacional ou habilidade clínica, há estudos (ALMEIDA FILHO, 1992;
ALMEIDA FILHO, 1993; TERRIS, 1995; BARATA, 1996), indicando que a
epidemiologia clínica pode ser vista como uma nova ideologia médica,
inserindo-se, com seu discurso de “medicina baseada em evidências”,
na corrente cientificista da educação médica (SCHRAIBER, 1989). Seria,
na verdade, uma estratégia encoberta e representativa, portanto, de uma
poderosa força de modernização e manutenção do modelo flexneriano
da prática médica, da educação médica e de influência sobre a própria
Saúde Pública, através da tentativa de reorientação da epidemiologia, uma
das vertentes principais desta área.
A existência, hoje, de uma Rede Internacional de Epidemiologia
Clínica muito bem articulada e a repercussão que esta proposta vem
obtendo, inclusive junto às propostas Network e UNI, indicam a
necessidade de um aprofundamento da análise a respeito. Não se trata
de emitir julgamentos precipitados, mas de lembrar que os que sustentam
os modelos hegemônicos de prática e educação médica também têm
estratégias e que a do cavalo de Troia continua tendo a sua validade nos
dias atuais.
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