Page 217 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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– deve ser capaz de enriquecer-nos, de mudar-nos, de converter-nos,
simplesmente porque nos permitiu ver o que era invisível para nós, saber
o que ignorávamos, admitir o que considerávamos inacreditável. Os fatos
só falam de si mesmos quando lhes permitimos falar”.
Desse período e dessa experiência, dentre as muitas lições aprendidas
e reflexões inconclusas, cabe registrar a que diz respeito à importância
de não se contentar com mudanças endógenas, ou seja, no âmbito de
um único curso de graduação. Sejam elas de natureza pedagógica/
educacional, de modelo acadêmico, ou de ordem administrativa, ou seja,
de modelo de gestão. Até que ponto a sustentabilidade dos processos
de mudança na saúde e na formação médica podem prescindir de
dar conta da complexidade da vida universitária e de considerar a
importância da contínua capacitação dos quadros dirigentes? Como fazer
para que o planejamento estratégico situacional seja uma ferramenta
disseminada e incorporada por professores e dirigentes de todas as áreas
de conhecimento, e não só da saúde?
Nesse período, final da década de 1990, participamos, com mais dois
professores, da organização de uma publicação com dezenas de coautores
10
latino-americanos . Foi um intenso e rico processo de sistematização da
experiência UNI transcorrida em 23 projetos existentes na América Latina.
Conforme está registrado na Apresentação Geral do Tomo 2 – As vozes
dos protagonistas:
“O desenvolvimento das atividades dos projetos UNI teve dois
propósitos: 1) testar a possibilidade de realizar um trabalho articulado
entre os serviços de saúde, as comunidades e as universidades na formação
de profissionais de saúde, que levasse também a mudanças na prestação
de serviços e na participação das comunidades no campo da saúde; 2)
desenvolver propostas metodológicas e tecnológicas para esse tipo de
aliança.
Esses desafios constituíram um inegável questionamento aos
paradigmas hegemônicos nos campos da formação, da prática e da
participação comunitária em saúde. Produziram na América Latina uma
mobilização institucional e social, envolvendo 103 cursos universitários,
10
Almeida, M.J.; Feuerwerker, L.; Llanos, M. A educação dos profissionais de saúde na
América Latina: teoria e prática de um movimento de mudança. Hucitec, Lugar Editorial,
EDUEL, São Paulo, 2v, 1999.
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