Page 26 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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Chama a atenção nessa análise a ausência de um compromisso
consistente dos governos, especialmente dos Ministérios de Educação e
de Saúde, no que se refere às mudanças necessárias. Certamente, não
porque Marcio os excluísse, mas porque o oportunismo e os fatores
determinantes do social pesam forte na realidade e, nesse caso, levam a
uma das maiores debilidades dos processos de reforma na saúde. Não
se trata de que os projetos UNI ou as outras propostas sejam deficientes
(embora apoiem processos de mudanças importantes com eficiência e
visão), mas sem um compromisso dos governos e de uma clara definição
por uma sociedade mais justa, não será possível resolver nem o problema
da saúde, nem o da educação dos profissionais de saúde. Sem justiça
social, mesmo existindo já claras linhas e diretivas para um progresso
real, não é possível quebrar o círculo de ferro que impede, por já muitas
décadas, os verdadeiros avanços na saúde.
A análise, por outro lado, deixa de fora outro fator comprometedor,
ao não tratar das causas históricas do enorme retrocesso que as
universidades enfrentaram nas décadas de 1960, 70 e 80 no subcontinente
latino-americano. Ao referir-se aos regimes autoritários não aclara o
enorme impacto, ainda hoje visível, das ditaduras da época, não só na
perda de oportunidades e orçamentos para uma educação equitativa,
mas também com um enorme prejuízo conceitual, do qual a recuperação
é muito mais lenta. A implantação de modelos sociais mercenários, de
solidariedade social zero e a privatização desenfreada, levou a que as
universidades também perdessem o sentido social e a necessidade de
identificarem-se com as prioridades dos povos que sustentam sua própria
sobrevivência.
A busca de saídas pessoais de grande número de profissionais
de alta qualificação – que talvez não haja ocorrido no Brasil na mesma
intensidade – levou a que projetos em países latino-americanos fossem
interrompidos ou reduzidos em seus desafios reais frente ao novo “status
quo”. Foi assim que um sistema de saúde relativamente eficiente – o
Chileno –, pôde ser destruído e transformado num modelo aceitável à
economia de mercado que a ditadura estabeleceu. Ao mesmo tempo,
afastou os segmentos universitários e a categoria médica da busca
necessária (que foi por muito tempo parte do cenário social daquele país)
de uma saúde com equidade, com qualidade, eficiência e relevância.
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