Page 27 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
P. 27

Esse processo, que resultou das ditaduras com a aceitação cúmplice
         ou silenciosa - mesmo havendo contado com a oposição de gente corajosa,
         e o Marcio foi uma delas –, mas não menos real dos velhos paradigmas
         social e de saúde, tem que estar onipresente na mente dos leitores para
         ser aplicado em cada uma das tabelas e figuras deste trabalho.
               A triste realidade do progresso social e das armadilhas impostas
         neste enorme, fraternal e formoso país que é o Brasil, que tem o potencial
         e a população necessários para avançar no caminho de uma saúde e vida
         realmente democráticas (onde o “homem seja o amigo dos homens” e a
         justiça social não seja um sonho mas uma realidade), resultou daqueles
         modelos das décadas anteriores.  A especulação financeira que hoje se
         faz contra os países do Terceiro Mundo não pode ser deixada fora de um
         trabalho como este.  É necessário que sempre fique no primeiro plano
         quando as discussões de propostas em saúde sejam consideradas.  As
         tentativas, hoje mais evidentes que ontem, de fazer das universidades
         campos de decisão do mundo privado  e, consequentemente, “determinada
         pelas leis do mercado” terão que ser parte das análises futuras dos novos
         projetos em saúde.
               Um dos coautores deste prefácio, conhecendo bem o sistema de
         saúde do Canadá, assinala que o país atingiu objetivos sociais importantes.
         E não foi o modelo de Aprendizagem Baseada em Problemas, nascido
         em McMaster, que conseguiu isso. Trabalhando naquela universidade por
         mais de 25 anos, ele conhece suas virtudes e limitações.  O resultado
         daquele processo de equidade social nasceu de uma decisão popular e um
         compromisso indiscutível das lideranças em todos os níveis da sociedade.
         Hoje, com mais de uma escola  “inovada” no Canadá, pode-se ver que a
         ameaça contra um dos sistemas de saúde de maior eficiência, qualidade,
         equidade e relevância do mundo, não deve ser, como não foi ao início
         tampouco, defendido só com as tecnicidades e a assepsia que o complexo
         médico-farmacêutico-industrial e bancário gostaria  de fazer-nos crer.
               Existe uma canção que tem uma boa frase para todos nós, que o
         Marcio conhece e respeita.  Diz, mais ou menos, “temos que olhar para
         o futuro e não só para a ponta de nossos pés”.   Nesta busca  eficiente
         feita por Marcio Almeida encontramos as bases para avançar.  Tarefa difícil
         quando nós mesmos, que trabalhamos neste processo, podemos ter uma
         tendência a esclerosar as melhores ideias por razões às vezes técnicas, e
         outras por falta de razões, para modelos socialmente ineficientes.


 xxiv                                   xxv
   22   23   24   25   26   27   28   29   30   31   32