Page 40 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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e das relações, caracterizando verdadeiras transformações da educação
médica. São exemplos deste tipo de intervenção: a ocorrida na educação
médica latino-americana nos anos imediatamente anteriores à 2ª Guerra
Mundial, mas principalmente nos que a sucederam, com a substituição do
modelo europeu pelo modelo norte-americano (flexneriano) de educação
médica, e a ocorrida em Cuba nos anos 1960, com a substituição de um
modelo flexneriano, parcialmente implantado, por um modelo de medicina
social que recebeu, durante seu desenvolvimento e no que se refere à
área médico-hospitalar, forte influência do modelo vigente na ex-União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Apesar de haver relações de interdependência entre os três planos
de profundidade, cada um deles possui autonomias. Conforme aponta
Matus (1993), os fenômenos (fluxos) e os atores sociais (feno-estrutura)
existem ou se produzem constantemente dentro dos espaços sociais e
entre eles há qualidades distintas. As inovações não evoluem naturalmente,
fruto de processos de acumulação, para situações de reforma da educação
médica. Para isso, há necessidade de que os atores sociais interessados
na introdução de mudanças mais profundas consigam estabelecer novas
relações de força e imprimir direcionalidade a projetos de intervenção
mais abrangentes.
Além disso, há uma relação de retrocondicionamento entre o
segundo e o terceiro plano de profundidade: o segundo existe somente
nos espaços permitidos pelo terceiro. Dessa forma, as regras fundamentais
do processo dominante de produção de médicos determinam o espaço de
variedade das reformas possíveis. Mas, como o plano estrutural também
é um produto social, um produto dos sujeitos sociais, as intervenções
neste plano, além de potencialmente gerarem transformações, também
introduzem novos elementos que modificam os espaços de variedade
antes mencionados.
As estruturas do modelo dominante de produção de médicos são
muito estáveis e suas alterações marcam as grandes e profundas mudanças.
Elas são estáveis porque os sujeitos sociais e os atores institucionais mais
fortes as defendem e sustentam. Naturalmente, os defensores das regras
geno-estruturais do sistema educacional, médico e social estão mais
ou menos satisfeitos com elas. Por seu lado, os que querem mudar o
jogo, alterando-lhe as regras, identificam as causas de seus problemas e
insatisfações com a vigência daquelas.
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