Page 36 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
P. 36

corresponde a uma causalidade simples, mas a outra, de tipo estrutural: a
         determinação em última instância. Esta consiste na abertura de espaços
         fora do alcance do econômico, ou seja, permite uma autonomia relativa
         do objeto (no caso, a prática médica) permitindo a entrada em jogo de
         novas causas e efeitos. Dentre as quais estão as provenientes das relações
         de força estabelecidas entre os distintos grupos sociais e o Estado em
         torno de demandas relativas à problemática de saúde.
               O conceito de determinação em última instância torna-se
         fundamental para se evitar o reducionismo economicista que desqualifica
         a importância da ação dos sujeitos sociais. Aliás, a visão estreita do
         estruturalismo que hipertrofia o determinismo econômico, embora ainda
         presente no campo da saúde coletiva, vem sendo bastante criticada por
         vários autores (CAMPOS, 1992; BODSTEIN, 1992).
               Ao mesmo tempo, porém, o conceito contribui para evitar a
         desqualificação do elemento determinação nas relações entre infra e
         superestrutura, pois “(...) uma questão que se coloca para nós, ao fazer
         uma ‘autocrítica’ de nossa tradição determinista, é a de como evitar cair
         no extremo oposto” (OLIVEIRA, 1992).
               Ou seja, o conceito de determinação em última instância ajuda a
         não incorrer no equívoco de se adotar um outro tipo de reducionismo,
         a causação circular antideterminista. A identificação de mediações entre
         estruturas e processos, entre estruturas e sujeitos, é facilitada com a
         valorização do conceito de determinação em última instância.
               Por  mudança  no contexto  do estudo  realizado entende-se  as
         alterações nos processos, nas relações e nos conteúdos da educação
         médica. Tomando por base outros atores que utilizam três planos de
         análise para localizar os nós explicativos de um problema (MATUS,
         1993; ROVERE, 1993) e para abordar iniciativas no campo da educação
         médica (FERREIRA, 1988), desenvolveu-se uma reflexão que resultou
         na formulação de três planos de profundidade das mudanças. Estas são
         classificadas em inovação, reforma e transformação. A Figura 2 apresenta
         esses planos e seus principais elementos de forma esquemática.


                                        8                                                                               9
   31   32   33   34   35   36   37   38   39   40   41