Page 41 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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Tudo isso tem uma importância vital na explicação situacional e
no planejamento das intervenções. Às vezes se quer resolver no plano
dos fenômenos problemas cujas causas essenciais estão no plano dos
atores sociais; às vezes tenta-se aprofundar mudanças além dos limites
permitidos pelas estruturas; às vezes procura-se produzir mudanças
estruturais que estão fora do alcance das forças dos sujeitos sociais. Essas
situações sugerem a existência de limites, mas também a necessidade de
elaborar estratégias que levem em conta as possibilidades e limitações
que se dão nos três planos.
Os problemas e as propostas de intervenção não podem ser bem
analisados e implementados se não houver clareza sobre os elementos
constituintes de cada plano de profundidade das mudanças. Uma coisa é
atuar conscientemente apenas no plano dos fenômenos, das inovações,
por não se ter forças para mudanças mais profundas; outra coisa é fazê-
lo por incompreensão dessa dinâmica. Dinâmica que, dialeticamente,
pode implicar em acumulações e saltos de qualidade, ou em estagnação
e retrocessos em relação a imagens-objetivo almejadas.
Os sujeitos sociais podem produzir inovações que, alterando os
conteúdos, os processos ou as relações, impactem sobre as relações sociais
e estas podem abrir o caminho para a produção de fatos e processos que
alterem as estruturas. A estratégia consiste em percorrer uma cadeia de
eventos, que começa pela produção de fatos situados dentro do espaço
das capacidades atuais dos sujeitos interessados e que têm como efeito
sua ampliação.
Estreitamente relacionado com os planos de profundidade das
mudanças surge o conceito de estratégia. Com frequência o adjetivo
“estratégico” é utilizado para qualificar uma ação, outorgando-lhe ênfase
num sentido semelhante ao termo “prioritário”. Esta é uma banalização
da palavra estratégia que, segundo o enfoque do pensamento estratégico,
não corresponde ao seu uso mais preciso.
Na sua origem e num sentido estrito, estratégia é um termo bélico
que supõe a ideia de uma confrontação real ou potencial. Nenhuma força
militar pode pensar estratégias sem identificar a existência de aliados e
de inimigos. A incorporação desta terminologia pelo setor saúde atende à
necessidade de identificar códigos comuns em processos que dependem
de aliados e opositores. Em outras palavras, a sociedade e as estruturas
micro ou macrossociais, especialmente quando objetos de transformação,
são vistas como campos de tensão, campos de luta, campos de confronto.
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