Page 39 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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horária de disciplinas e os tradicionais projetos de extensão extramurais,
que estabelecem áreas de demonstração ou “laboratórios de comunidade”.
No segundo plano ou plano dos sujeitos e atores sociais, que
também pode ser denominado como das acumulações humanas ou feno-
estrutural (relação de forças), tem lugar as mudanças que buscam substituir
dimensões mais abrangentes do processo de produção de médicos por
outras que envolvem elementos essenciais do processo e algum grau de
reinterpretação das bases conceituais da educação médica tradicional.
Embora também introduzam alterações nas relações técnicas,
atingem as relações sociais estabelecidas na formação médica,
estabelecendo novos critérios de convivência entre os sujeitos e/ou atores
envolvidos, incluindo entre estes os pacientes ou a comunidade.
As intervenções que se enquadram neste plano de profundidade de
mudança resultam em alterações combinadas, em algum grau, nas relações,
e/ou nos processos e/ou nos conteúdos, caracterizando distintas reformas
da educação médica. São exemplos deste tipo de intervenção as iniciativas
de articulação entre ensino-serviços-comunidade, com seus vários graus de
abrangência e profundidade em termos de cobertura populacional, níveis
de atenção, participação de departamentos/disciplinas, dos profissionais
dos serviços e da comunidade, etc.
No terceiro plano ou plano estrutural, que também pode ser
denominado como das regras básicas ou geno-estrutural (relações sociais
essenciais ao sistema de produção), têm lugar as mudanças que buscam
introduzir uma nova ordem no processo de produção de médicos e nas
suas relações com a estrutura socioeconômica. Ou seja, engloba todo o
contexto e a própria sociedade. Envolve a essência do próprio processo
de produção do conhecimento, a construção de novos paradigmas e os
determinantes histórico-sociais.
Embora tenham lugar novas relações técnicas e sociais, são as
relações políticas entre os sujeitos sociais e os atores institucionais
envolvidos que sofrem maior impacto neste plano de profundidade das
mudanças. Pressupõe uma ênfase especial na substituição da prática
médica hegemônica por outra, ajustada à estratégia de APS, com o
desenvolvimento e utilização de tecnologia apropriada, da articulação
biopsicossocial, da intersetorialidade, a superação da dissociação entre
estudo e trabalho, e o controle social.
As intervenções que se enquadram neste plano de profundidade
de mudança resultam em alterações globais dos conteúdos, dos processos
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