Page 42 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
P. 42
Isto porque, sendo os objetivos sociais sistematicamente conflitivos
em si mesmos, eles não são alcançáveis sem mudança na correlação
de forças, atual ou futura, de maneira favorável a algum sujeito social.
Estratégia, portanto, é considerada como o conjunto de movimentos
(estratégicos) capazes de viabilizar avanços significativos na trajetória
rumo ao objetivo pretendido. Avanços estes que, necessariamente, devem
ser considerados resultado de mudança na correlação de forças entre os
sujeitos sociais envolvidos.
A rede de relações sociais no campo da educação médica torna-se
mais complexa, na medida em que se acrescentam à análise, a existência
de formas diferenciadas de prática médica e outras instâncias, como a
produção científico-tecnológica. Cada uma delas adquire, por sua vez,
certa autonomia, ainda que, com frequência, a prática médica hegemônica
mantenha um papel dominante sobre as outras instâncias.
Por hegemonia entende-se o poder político garantido pela
dominação (coerção), mas também pela direção intelectual e moral
(consenso); capacidade de formular uma proposta a partir do ponto de vista
de um determinado grupo social, mas que, conseguindo adesão de outros
grupos, se transforma em projeto comum, superando os corporativismos
e as propostas antagônicas. É um conceito intrinsecamente relacionado
à luta ideológica mais geral de uma sociedade de classes (COUTINHO,
1989). Ideologia, aqui entendida como o conjunto de concepções, ideias,
representações e teorias que se orientam para a legitimação e reprodução
de uma ordem social (geral ou particular) estabelecida, ou para a sua
ruptura e substituição por outra. Esse conjunto inclui o conhecimento
científico e suas teorias, também relacionados, direta ou indiretamente, a
uma perspectiva socialmente determinada.
A prática médica hegemônica impõe suas próprias leis de
funcionamento à formação médica, o que ocorre só até certo ponto.
A educação médica possui relativa autonomia e, por vezes, chega a se
confrontar com as exigências provenientes da prática médica dominante.
Sucede da escola médica se transformar, sob determinadas circunstâncias
e devido ao seu próprio papel legitimador das práticas, em arena de
conflitos que ocorrem na prática médica (por exemplo, no que diz respeito
à oficialização de subespecialidades) e/ou nos processos de construção de
novos modelos assistenciais, preconizados por reformas do setor saúde.
14 15