Page 167 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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No entanto, na América Latina os dirigentes das instituições
         universitárias afiliadas à Network não têm estimulado este tipo de
         iniciativa, conforme pode ser comprovado pela análise da planilha “Student
         Elections” (Newsletter  de junho de 1997). Nos últimos anos vêm ocorrendo
         casos esporádicos de escolas médicas brasileiras oferecerem estágios a
         estudantes de outros países, geralmente europeus. Mas estes decorrem,
         principalmente, da articulação entre os próprios estudantes.
               A valorização do papel do estudante nos processos educacionais
         é resultado da concepção teórico-metodológica da proposta Network,
         que enfoca os estudantes como sujeitos nos processos educacionais.
         Esta condição é reforçada pelo uso do PBL, enquanto metodologia de
         ensino. Ao estabelecer novas relações técnicas e sociais de ensino entre
         professores e alunos, vistos como sujeitos que interagem na construção do
         conhecimento e na aquisição de habilidades e atitudes, essa metodologia
         introduz mudanças no processo de formação de médicos. Aí reside a
         fortaleza mais evidente da proposta Network.
               No entanto, a implantação isolada do PBL corre o risco de
         redundar em simples modernização da educação médica, nos marcos não
         questionados do modelo flexneriano. O que não significa, necessariamente,
         processos tranquilos e ausência de conflitos. A mudança de funções de
         professores e alunos e os novos desenhos curriculares, com alteração
         do significado das disciplinas e departamentos acadêmicos, são fatores
         geradores de muitas resistências e oposições, suficientes para abortar
         até mesmo  tentativas de “meras modernizações” que  não  desfrutem
         de propósitos consistentes,  de gerenciamento acadêmico-administrativo
         competente e de sólidas bases de apoio.
               Ou seja, sem mudanças dos cenários de ensino-aprendizagem, da
         articulação com os serviços de saúde e os seus processos de reforma e de
         outras iniciativas, o PBL pode resultar numa mera inovação modernizante.
               Além das debilidades já apontadas, no que se refere à materialidade
         institucional da proposta, dois outros pontos fracos podem ser identificados.
         Seriam eles: a centralidade das ações da proposta na educação médica,
         embora a Rede tenha caráter multiprofissional; e a limitada compreensão
         quanto às estruturas econômico-sociais e suas relações com a educação
         e prática das profissões de saúde.


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