Page 71 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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No entanto, não é este o nosso objetivo. Para este estudo, basta
identificar a formação e desenvolvimento de um movimento de educação
médica na América Latina composto por, pelo menos, duas grandes
correntes e que, desde seu início, caracteriza-se por ser polêmico e
conflituoso. Os processos de criação e de desenvolvimento das ações
da FEPAFEM foram, até recentemente, alvo de polêmicas e de suspeição
sobre sua condição de entidade manipuladora e manipulada por certos
setores da sociedade e do governo norte-americano, em aliança com alguns
líderes latino-americanos da educação médica, em defesa de interesses
e políticas neocolonialistas. Em contrapartida, sempre houve referências
veladas à ALAFEM como sendo instrumento da política externa cubana.
As mesmas posições políticas existentes nas esferas dirigentes
da FEPAFEM e da ALAFEM também ocorriam ao nível das escolas,
evidentemente com variados graus de conflito. No período 1983/87, de
criação e estruturação da ALAFEM, são mais altissonantes as expressões
das divergências, que se manifestam nos temários das suas Conferências e
em declarações do tipo: “(...) las universidades de América Latina debían
unirse, coordinar y actuar en forma conjunta (...) para hacer frente a la
penetración y dominación cultural del imperalismo de Estados Unidos de
Norteamerica (...) con la excepción de la experiencia solidaria de Cuba (...)
la cooperación que hasta ahora ha existido, ha obedecido a los intereses
de los estados capitalistas dependentes y de la metrópoli imperalista, y
no a las verdaderas necesidades de las universidades y de la población
latino-americanas” (UDUAL, 1984).
Durante todo esse período de 40 anos, desde a sua formação e
desenvolvimento, o movimento de educação médica na América Latina
contou com o apoio da OPS. Ora apoiando a FEPAFEM, a ALAFEM, e
as Associações Nacionais, ora apoiando escolas, grupos de educadores,
pessoas e organismos com posições político-ideológicas e educacionais
distintas, com freqüência a OPS trabalhou com as várias correntes
simultaneamente.
Fica evidente, fruto da política do Programa de Desenvolvimento
de Recursos Humanos e das posições políticas do seu corpo diretivo e
técnico, que a ênfase da participação nas atividades levadas adiante pelo
movimento variou, segundo as políticas e propostas das entidades. Como
se verá mais adiante, ao se analisar alguns dos acontecimentos da década
de 1980, as iniciativas conjuntas tiveram, invariavelmente, conotações
político-ideológicas, em que pese existirem também decisões decorrentes
de divergências teórico-metodológicas e de desencontros pessoais entre
líderes do movimento. Ou seja, nada mais do que a manifestação no
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