Page 113 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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desenvolvida nesses novos cenários, ainda há o franco predomínio
         dos cenários tradicionais, constituídos pelas salas de aula, laboratórios
         acadêmicos, ambulatórios e enfermarias dos hospitais universitários de
         terceiro nível de atenção, espaços privilegiados, segundo o paradigma
         flexneriano, de produção da saúde e do ensino.
               Segundo a proposta, nos espaços comunitários e nos serviços de
         primeiro e segundo níveis de atenção, aumenta a possibilidade do paciente
         ser sujeito e não somente objeto da atenção dedicada pelos profissionais
         e aumentam também as condições de interação multiprofissional. Os
         espaços comunitários são os locais onde a atuação dos alunos, professores
         e profissionais dos serviços se volta à construção dos meios necessários
         a que a comunidade viabilize sua participação ativa como sujeito do
         processo de produção da saúde.
               Nesse  contexto,  vêm  ganhando relevância  as  experiências  de
         autocuidado (de caráter individual e coletivo; sobre problemas biomédicos
         e socioambientais), na medida em que significam passos rumo à maior
         apropriação e autonomia da população em relação à sua própria saúde.
         Nas unidades de saúde de primeiro e de segundo níveis de atenção,
         além da possibilidade mais concreta de participação dos profissionais dos
         serviços em atividades de ensino e pesquisa, aos alunos e professores
         são apresentadas oportunidades de atuação sobre problemas de saúde
         identificados pela população e do desenvolvimento de uma atenção mais
         integral e integrada.
               Os  novos  conteúdos  temáticos  que  vêm  sendo  incorporados
         exigem, pela própria natureza dos problemas enfrentados, processos
         de crescente aproximação e domínio da interdisciplinaridade, bem
         como de movimentos de superação das clássicas dicotomias dos
         conteúdos das ciências básicas e dos ciclos clínicos. Em alguns projetos,
         a interdisciplinaridade é assumida como instrumento metodológico para
         ajudar na construção de novas práticas de ensino e de pesquisa no campo
         da saúde, em decorrência da crescente complexidade das situações a
         serem enfrentadas, da incorporação tecnológica e das novas modalidades
         de prestação de serviços.
               Quanto às metodologias de ensino-aprendizagem, as experiências
         são, em sua maioria, mais restritas, localizadas em disciplinas ou grupos de
         disciplinas, tanto básicas como clínicas e, em algum casos, de integração
         de ambos os ciclos. Até início de 1999, somente em três projetos – Cali,
         Marília e Londrina – ocorreram processos mais abrangentes de mudança



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