Page 175 - DOENÇA MENINGOCÓCICA - VOLUME 2 - DIGITAL
P. 175
INTERAÇÃO DOS FATORES CONSIDERADOS NA ECLOSÃO EPIDÊMICA DA DOENÇA MENINGOCÓCICA
Considerando o fator climático, o fato de os surtos obedecerem, regra
geral, à sazonalidade, leva-nos a considerar que a baixa umidade do ar, em geral
coincidente com baixas temperaturas, teria um papel inicial na fisiopatogenia da
DM. Já se relatou que, no “cinturão africano da meningite” em época fria e seca
do ano, quando a umidade é muito baixa, predominam outras infecções de porta
54
de entrada respiratória além da DM . Essas infecções podem também constituir
mecanismos facilitadores de maior disseminação do meningococo 99, 127 . Contudo,
associações como a ocorrência de viroses respiratórias, por si consequentes
à maior proximidade entre as pessoas no inverno, requerem melhor avaliação.
Em nosso trabalho não verificamos associação entre número de habitantes por
domicílio e frequência de DM.
Defende-se que a queda da umidade, levando à isquemia da mucosa da
nasofaringe, porta de entrada do germe, acarretaria alterações no endotélio
vascular com consequente diminuição local da resposta inflamatória celular
e, possivelmente, de IgA secretória, além de soluções de continuidade, com
quebra, portanto, da barreira natural à penetração sistêmica da bactéria. O
comprometimento dessa barreira se acentuaria, provavelmente, em presença
de infecções agudas de vias aéreas superiores 99, 127 e de deficiências nutricionais
(avitaminoses, disproteinemias, etc, ) mais evidenciadas em crianças, capazes
157
de repercutir sobre os mecanismos específicos e inespecíficos de defesa e que se
agravariam por associação dessas causas. A ocorrência da doença dependeria,
também, dos contatos anteriores com o meningococo e com antígenos de
reação cruzada 59, 204 que induziriam à produção de anticorpos na ausência de
fatores capazes de alterar essa resposta; poderia depender, ainda, da vacinação
polissacarídica, cuja atuação se associa à imunidade humoral e não à celular .
62
GRIFFISS , em seu modelo hipotético de DM, admite que a ocorrência
251
de casos derive da competição entre IgA induzida por antígenos comuns de
enterobactérias circulantes e IgM antimeningocócica, nas infecções concomitantes
por esses agentes; justifica assim, pelas baixas condições de saneamento básico
propiciando infecção por enterobactérias, maior frequência de DM nos locais
de maior pobreza. Supomos que esse mecanismo possa ser agravante, mas não
responsável por processo epidêmico, a não ser que duas epidemias se superpusessem
173