Page 180 - DOENÇA MENINGOCÓCICA - VOLUME 2 - DIGITAL
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INTERAÇÃO DOS FATORES CONSIDERADOS NA ECLOSÃO EPIDÊMICA DA DOENÇA MENINGOCÓCICA
MUNFORD e col. 123 verificaram, em São Paulo, que famílias grandes, com
maior número de crianças pequenas, apresentaram mais alta frequência de
portadores e de casos de doença, atribuindo isso ao ajuntamento domiciliar. Na
epidemia de Londrina, porém, não houve relação significante entre número de
casos e de habitantes por residência. Ali, nos setores mais pobres, as famílias não
foram significantemente mais numerosas, embora houvesse maior frequência de
DM. Não foi avaliada, porém, a relação entre número de habitantes e número ou
tamanho de cômodos, que também refletiria aglomeração domiciliar.
Parece-nos fácil aceitar que numa população mais ou menos estável,
incluindo focos de ajuntamento, esta condição embora facilitando a mais rápida
transmissão de um novo sorogrupo ou sorotipo possivelmente introduzido na
comunidade, levaria, por outro lado, à maior frequência de imunidade humoral
cruzada com outras bactérias ou outros sorogrupos de meningococo. Tal
condição, entretanto, não impediu que a DM predominasse nas populações de
menor renda. Ao contrário, o baixo nível social, ao que tudo indica, representou
um fator agravante da morbidade por associar-se à maior população de crianças e,
talvez, por contribuir à maior exposição ao meningococo e à diminuição da defesa
orgânica ligada a condições de nutrição e infecção intercorrentes.
Na epidemia de Londrina os japoneses e seus descendentes, assim como
as populações das áreas de maior nível socioeconômico da cidade, foram
menos atingidos pela doença. Entretanto, dos nipônicos deduz-se que sejam
socioeconomicamente mais diferenciados que a população não nipônica em
geral , mas que, com número médio de filhos elevado 220, 231 tendam a viver de
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forma mais aglomerada; de forma semelhante, alguns setores administrativos de
Londrina (setores 9, 10 e 34, por exemplo) nos quais, diferindo da tendência geral,
a população de crianças e o nível econômico foram concomitantemente altos ou
médios, tiveram também baixas taxas de morbidade.
Tais observações fazem pensar que fatores considerados predisponentes
à DM, como baixa idade (compatível com baixo nível de anticorpos protetores)
e aglomeração (favorecedora ao aumento de portadores, e ligada a predomínio
familiar de crianças, a creches, a prestação de serviços militar ou a outras condições),
se não estiverem associados à baixa renda, não levarão à morbidade elevada; não o
fará também, isoladamente, a baixa renda, em que pode estar implícita a condição
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