Page 129 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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autores da proposta, reconhece-se que há insuficiências, as quais se
         busca superar através das contribuições provenientes dos projetos, dando
         prosseguimento, de forma ampliada, ao processo de construção coletiva
         do ideário da proposta.
               Contudo, é no tocante à sua coerência externa que a proposta
         apresenta insuficiências mais sérias. Apesar de ter identificado um contexto
         latino-americano propício para a proposição apresentada, quer no que
         se refere às rss, quer no que se refere às necessidades do campo da
         formação de rhs, a proposta UNI não vem valorizando a historicidade dos
         movimentos existentes neste último campo e não vem se preocupando
         com a atualização permanente da análise dos contextos externos, tanto
         ao nível do Programa UNI como dos projetos UNI.
               Uma das causas dessas insuficiências é o fato da proposta não
         se fundamentar em quaisquer dos marcos teóricos da educação dos
         profissionais de saúde na América Latina. É possível que o único trabalho
         conceitual mais elaborado existente a este respeito se localize no campo
         da educação médica, conforme registrado anteriormente. Ele não é
         suficiente para dar conta das especificidades que decorrem da natureza
         multiprofissional da proposta UNI, mas possui elementos que poderiam
         ajudar no processo de fortalecimento teórico-conceitual e metodológico da
         proposta, especialmente quanto à compreensão das complexas relações
         entre a educação dos profissionais de saúde, as práticas profissionais e
         a estrutura social.
               No ideário UNI reconhece-se o condicionamento que a estrutura
         social exerce sobre a educação e prática dos profissionais de saúde, mas,
         quanto às relações entre estas últimas duas dimensões, predomina uma
         concepção de indeterminação ou de mútua determinação, o que resulta no
         mesmo. Ou seja, numa noção de causalidade circular, em que conceitos
         como o de determinação em última instância não têm lugar.
               Uma outra debilidade traduz-se em uma concepção limitada do
         que seria o âmbito de intervenção dos projetos em relação aos serviços
         de saúde: houve grande concentração nos serviços de primeiro nível e
         também pouca ênfase no desenvolvimento de novos modelos de atenção,
         embora estes façam parte dos propósitos e objetivos do ideário UNI.
               Outra debilidade teórico-conceitual da proposta se refere à
         concepção de  mudança e seus mecanismos de  realização. Verifica-
         se um “borramento” dos conceitos de inovação, mudança, reforma e
         transformação, em realidade não explicitados em nenhum momento. Os



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