Page 57 - EDUCAÇÃO MÉDICA E SAÚDE - A Mudança é Possível!
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flexneriano, é apontado um importante dilema: a prevalência da cultura da
atenção médica e, como consequência, a ausência de recursos humanos,
especialmente de nível superior, para viabilização da proposta. Aliás, este
foi justamente o principal argumento utilizado por líderes do movimento
municipalista brasileiro de saúde que, em recente evento nacional, teceram
críticas à proposta de inserir o Programa de Saúde da Família (PSF) como
eixo da ação dos municípios (GIL, 1997a).
Como solução para o dilema, Mendes (1996) manifesta que “(...) o
que se deve fazer é, concomitantemente, criar o mercado, mediante decisão
política de pagar salários dignos aos profissionais de saúde da família e
procurar as universidades de forma a mudar a qualidade dos recursos
humanos que estão sendo formados. Ou seja, instituir um mercado atrativo
e reorientar, qualitativamente, o fluxo de recursos humanos, capacitando-
os para a saúde da família. Sem descuidar de convocar as universidades
para a requalificação do estoque de recursos humanos já acumulado”.
Chaves (1982) identificou, provavelmente de forma pioneira no
início da década de 80, o trabalho de Lalonde (1974), tendo incorporado os
conteúdos da promoção da saúde como eixo central de um dos capítulos
do seu livro. Neste, ele introduz a discussão sobre a necessidade de novos
paradigmas no campo da saúde, apresenta uma proposta de mudança
nos modelos de ensino dos profissionais, de mudança na prestação de
serviços de saúde e procura traçar as linhas iniciais de um movimento
de unificação entre a proposta de Atenção Primária de Saúde (APS) e a
proposta da formação do médico de família.
Observe-se que na época da publicação da obra havia uma
interessante polêmica a respeito da proposta de médico de família como
produto das escolas médicas (PAIM, 1985). Chaves preocupa-se em
elaborar uma proposta de construção de um novo modelo de prestação
de serviços de saúde através da combinação da APS e do movimento do
médico geral ou de família (Figura 3).
Na Figura, os níveis de assistência são representados não sob a
forma de uma pirâmide de vários níveis, mas de duas pirâmides imbricadas
procurando, segundo o autor, reconciliar algumas dificuldades semânticas
sobre cuidados primários. O terceiro nível (1.3) é o vértice da pirâmide
de cuidados primários do sistema e é constituído, por definição, por
pessoal de nível universitário. De acordo com a região do mundo, do
país, da zona, a composição da equipe que atua neste vértice variará,
sendo, contudo, fundamentais a presença do médico e da enfermeira. A
segunda pirâmide, na qual penetra a pirâmide dos cuidados primários, é
a dos cuidados secundários e terciários.
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