Page 82 - AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR: UMA EXPERIÊNCIA NA EDUCAÇÃO MÉDICA
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enfrentar os problemas do seu tempo. No contexto da globalização, onde
            as transformações econômicas, políticas, sociais e culturais transformam o
            mundo do trabalho, o conhecimento da época e as práticas hegemônicas já
            não eram capazes de responder às novas demandas.

                 Segundo  Feuerwerker e  Lima  (2002),  na educação,  a crise
            paradigmática  se  revelava na  contraposição  hegemônica  tradicional  e  a
            concepção crítica reflexiva. A primeira utiliza a pedagogia da transmissão, a
            prática pedagógica centrada no professor e a aquisição de conhecimentos de
            maneira desvinculada da realidade. A segunda se fundamenta na construção
            do conhecimento a partir da problematização da realidade, na articulação
            teoria e prática e na participação ativa do estudante no processo de ensino-
            aprendizagem. Na saúde, o primeiro vê a saúde do ponto de vista biologicista,
            centrado  na  doença,  na  hegemonia  médica,  na  atenção  individual  e  na
            utilização intensiva da tecnologia. O segundo baseia-se na construção social
            da saúde, apoiada no fortalecimento do cuidado e da promoção à saúde, na
            ação intersetorial e na crescente autonomia das pessoas e populações em
            relação à saúde.
                 Foi tentando superar os modelos hegemônicos, tanto na saúde quanto
            na educação, que a Educação Médica começou a construir sua mudança.


                      (...) As escolas médicas são instituições complexas, que articulam uma
                      multiplicidade  de  sujeitos,  de  identidades  e  de  interesses.  Transformar
                      o  processo  de  formação  implica  mudanças  na  concepção  de  saúde,  na
                      construção  do  saber,  nas  práticas  clínicas,  na  relação  entre  médicos  e
                      população, entre médicos e demais profissionais de saúde, na concepção
                      de educação e de produção do conhecimento, nas práticas docentes, nas
                      relações  entre  professores  e  estudantes,  nas  relações  de  poder  entre  os
                      departamentos  e  disciplinas.  São,  portanto,  mudanças  profundas,  que
                      implicam  a  transformação  não  somente  de  concepções  e  práticas,  mas
                      também  de  relação  de  poder  dentro  das  universidades,  dos  serviços
                      de saúde, do território local, e também no espaço social, no campo das
                      políticas. (FEUERWERKER, 2002: 288)





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